Deixar morrer para manter a economia: necropolítica e pandemia
DOI:
https://doi.org/10.14210/rbts.v8n1.p14-25Resumo
Este artigo é resultado de uma pesquisa em andamento, de natureza qualitativa, que tem como objetivo analisar os discursos do presidente da república, Jair Messias Bolsonaro (sem partido), em suas lives semanais, tendo como recorte desde o primeiro vídeo, de 27 de fevereiro de 2020, após o primeiro caso de Covid-19 no Brasil, em 26 de fevereiro de 2020, até o último do primeiro semestre, em 25 de junho de 2020. No centro da análise, estão as relações das falas do presidente com a desinformação, aproximando as práticas discursivas da necropolítica, conceito desenvolvido pelo filósofo camaronês Achille Mbembe. Ao todo, foram 15 lives analisadas com foco na pandemia e na nomeação, pelo presidente, de fake news às críticas recebidas pelos órgãos de imprensa. Com a pesquisa, considera-se que o presidente usa a expressão fake news para desqualificar as críticas recebidas, ao passo que produz sistematicamente desinformação para minimizar a pandemia. Sua posição discursiva faz com que os trabalhadores, aqueles que contribuem com a produção, sejam incluídos no devir negro, ou seja, na produção e naturalização da morte que poderia ser evitada.
Referências
ALMEIDA, Silvio Luiz de. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letramento, 2018.
ARENDT, Hannah. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e holocausto. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
BRUNO, Fernanda; ROQUE, Tatiana. A ponta de um iceberg de desconfiança. In: BARBOSA, Mariana (org.). Pós-verdade e fake news: reflexões sobre a guerra de narrativas. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. p. 13-23.
BUCCI, Eugênio. New não são fake – e fake new não são news. In: BARBOSA, Mariana (org.). Pós-verdade e fake news: reflexões sobre a guerra de narrativas. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. p. 37-48.
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense, 1986.
FOUCAULT, Michel. Nascimento da biopolítica. Curso dado no Collège de France (1978-1979). São Paulo: Martins Fontes, 2008a.
FOUCAULT, Michel. Segurança, território e população. Curso dado no Collège de France (1977-1978). São Paulo: Martins Fontes, 2008b.
MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. São Paulo: n-1 edições, 2014.
MBEMBE, Achille. Necropolítica. 3. ed. São Paulo: n-1 edições, 2018.
PELBART, Peter Pál. O devir-negro do mundo. Cult, 5 dez. 2018. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/o-devir-negro-do-mundo/. Acesso em: 14 abr. 2021.
SAFATLE, Vladimir. Bem-vindo ao estado suicidário. Disponível em: https://n-1edicoes.org/004. Acesso em: 14 abr. 2021.
STEVANIM, Luiz Felipe. Vulnerabilidades que aproximam. Radis Comunicação e Saúde, n. 212, p. 10-17, maio 2020. Disponível em: https://radis.ensp.fiocruz.br/phocadownload/revista/Radis212_web.pdf. Acesso em: 13 abr. 2021.