A GENEALOGIA DA ESTUPIDEZ

Autores

  • Lúcia Schneider Hardt Universidade Federal de Santa Catarina

DOI:

https://doi.org/10.14210/contrapontos.v19n1.p16-26

Palavras-chave:

Nietzsche, Estupidez, Genealogia

Resumo

O artigo tem como objetivo aproximar dois autores por meio de dois conceitos: genealogia e estupidez, com o propósito de pensar nosso tempo e interpretá-lo. Em termos metodológicos, destacamos uma aproximação entre o conceito de genealogia compreendido como um movimento de interpretação da realidade com o conceito de estupidez, para verificar em que medida não estamos conseguindo interpretar nosso tempo em função de obstinadamente querer encontrar uma verdade sem antes indagar-se sobre determinadas ideias e conceitos já absorvidos e que ocupam um valor que impedem a própria interpretação. Deste modo, o artigo pretende sustentar que Nietzsche ocupa uma posição filosófico-educacional quando nos convida a prosseguir pensando, apesar de nossos valores e, ao mesmo tempo, o artigo pretende sustentar que nos darmos conta disso pode significar enfrentar nossa estupidez. Estupidez e política parecem ter certa afinidade. Em algum momento sempre somos estúpidos, o risco começa quando já não mais nos identificamos com ela e nos definimos sábios para orientar o outro. Estupidez não é antônimo de inteligência. Para Musil (2016), existem dois tipos de estupidez: uma é honesta, admite que algo falta. A outra estupidez é inteligente – errática, pretensiosa. Segundo Musil (2016), esta estupidez parece mais uma doença da cultura. Nietzsche nos alerta sobre a estupidez em vários momentos de sua obra e apresenta estratégias para enfrentá-la. O diálogo aparece em Nietzsche (ZITTEL, 2016) como forma de exposição de disposições suaves, de atenuações e de um amistoso ceticismo, de enigmas e ocultamentos, constituindo-se em uma ferramenta contra a estupidez. Com o desejo de fazer Musil e Nietzsche dialogarem, arrisco dizer que a estupidez como chave de leitura não quer nos fazer calar, não quer nos ver imobilizados. Contudo, precisamos rastrear nossa estupidez, que pode ser ocasional, funcional e até constitucional. De acordo com Musil (2016), vivemos condições de vida tão pouco claras que a estupidez ocasional muito rapidamente converte-se em estupidez constitucional coletiva. A estupidez sempre está servida de pensamentos e afetos que podem num único corpo demonstrar estreiteza, amplitude, agilidade, simplicidade, fidelidade. A luta contra essa estupidez exige paciência. É preciso cuidar para que os afetos não esmaguem a razão, em vez de inspirá-la. Assim, a estupidez não é a falta de inteligência; na realidade, toda inteligência tem sua estupidez e rastreá-la parece ser o grande desafio formativo do momento atual. Resistir à estupidez é um desafio educativo e nos coloca diante de outro cenário: não seguir obstinadamente em busca de uma verdade, mas verificar por que certas ideias e conceitos adquirem valor em nossos argumentos.

Biografia do Autor

Lúcia Schneider Hardt, Universidade Federal de Santa Catarina

Professora associada da Universidade Federal de Santa Catarina. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Formação de Professores, atuando principalmente na área de filosofia e teorias da educação. Desenvolve pesquisas especialmente a partir de Nietzsche para pensar a educação.

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Publicado

2019-04-05

Edição

Seção

Artigos