ESCRITA DE SI EM ROUSSEAU: LUGAR DE SOLIDÃO E AFIRMAÇÃO RADICAL DA PRÓPRIA EXISTÊNCIA

Autores

  • Marlene de Souza Dozol Universidade Federal de Santa Catarina
  • Lia Presgrave Reis Universidade Federal de Santa Catarina

DOI:

https://doi.org/10.14210/contrapontos.v19n1.p156-169

Palavras-chave:

Solidão, Autobiografia, Jean-Jacques Rousseau

Resumo

Neste artigo, serão discutidas questões de ordem estético-existencial observadas na leitura d’Os devaneios do caminhante solitário de Jean-Jacques Rousseau, tendo como interlocução o texto Jean-Jacques Rousseau: a transparência e o obstáculo de Jean Starobinski que, junto a outros comentadores, alimentarão o exame do tema da solidão nas reflexões sobre o autor. A solidão será compreendida aqui como energia autoformativa e sentimento que possibilita a expressão literária da autobiografia na obra rousseauniana. Elegeram-se algumas perguntas para nortear a reflexão: o que significaria uma escrita de si como lugar de solidão e como afirmação radical da própria existência em Rousseau? Que sentido atribuir à energia autoformativa de ambas quando se trata de uma mestria de si mesmo? Uma das formas de a escrita de si afirmar radicalmente a existência em Rousseau manifesta-se na sua obsessão pela “transparência”, que o levou à conquista de uma unidade entre o próprio “eu” e a linguagem, na qual a palavra encarna o primeiro. Rousseau confunde sua existência com a própria essência da verdade, ao tomar as lembranças como matéria-prima para esses devaneios que adquirem forma literária, conferem autenticidade à obra e fabricam um discurso unificador, porque eivado de uma verdade do sentimento. Tal afirmação de si também inclui a decisão de narrar a sua vida para transmitir ao leitor uma informação mais autêntica de como se tornou quem é e porventura conseguir a remissão e o reconhecimento públicos. A escrita de si apareceria como lugar de solidão, ato de liberdade do escritor. A solidão irremediável do caminhante atuaria nos Devaneios como energia autoformativa, assumindo um valor estético e corroborando para um errante e inesgotável exercício de conhecimento do “eu” e da existência metamorfoseados em obra literária autobiográfica.

Biografia do Autor

Marlene de Souza Dozol, Universidade Federal de Santa Catarina

Professora Titular da Universidade Federal de Santa Catarina. Atua na linha de pesquisa Filosofia da Educação ligada ao Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE/UFSC). É líder do Grupo de Pesquisa GRAFIA - Grupo de Estudos em Filosofia da Educação e Arte/CNPQ. 

Lia Presgrave Reis, Universidade Federal de Santa Catarina

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGE/UFSC). É membra do Grupo de Pesquisa GRAFIA - Grupo de Estudos em Filosofia da Educação e Arte/CNPQ. 

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Publicado

2019-06-18

Edição

Seção

Artigos